No próximo domingo, 15 de outubro, é celebrado o Dia dos Professores. A data é marcada por homenagens ao redor do país, mas um dia no ano está longe de ser suficiente para celebrar o trabalho docente e discutir as situações enfrentadas por eles no dia a dia. Por isso, o portal da CNBB convidou o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner para bater um papo conosco sobre esse dia.
Como o senhor vê a celebração do “Dia dos professores” neste momento pelo qual o Brasil atravessa uma crise histórica?
As pessoas que assumem o magistério são vitais para a sociedade. Os professores e as professoras têm a missão de formar e dar um suporte intelectual e profissional às crianças e jovens. Eles tem uma responsabilidade com o futuro do país, especialmente no que se refere à transmissão dos valores bailares como a solidariedade, a justiça, a democracia, a inserção social, o respeito pela sexualidade, a tolerância, a transcendência, a fraternidade, a justiça social, o perdão. Mas eles também são responsáveis por projetos de uma educação de qualidade capazes de propor transformações importantes para o Brasil. Sem professores devidamente formados, justamente remunerados e fortemente assistidos em seu ofício não poderemos continuar sonhando as mudanças que podem tirar o Brasil da crise ética e moral que atravessa. Nesse sentido, a data que faz homenagem a eles deveria demonstrar um renovado compromisso efetivo com todos os professores e professoras. Compromisso de um aperfeiçoamento profissional sempre renovado e um salário justo. Compromisso por parte dos alunos, dos pais e responsáveis, pela sociedade, pelo poder público e, claro, por toda a comunidade onde eles vivem e atuam.
Como a Igreja reconhece e valoriza o trabalho dos professores?
Uma das mais bonitas e antigas expressões da nossa caminhada de fé na história é aquela que afirma ser a própria Igreja uma Mestra. Isso significa que está na natureza da Igreja a vocação ao trabalho do ensino, do acompanhamento fraterno e da formação de cada um dos seus membros. Inspirados nessa realidade, podemos dizer que na Igreja só há espaço para uma constante valorização de tantas irmãs e irmãos que abraçam a missão do magistério. Há de ter diálogo constante na busca de programas que apoiem os professores e criar, sempre mais, condições para que eles possam exercer a missão que Deus lhes confiou com competência e amor. O mesmo podemos dizer de todas as pessoas que estão a serviço da educação e da formação em nossas escolas.
Os professores reclamam da violência que sofrem em várias partes do país. O que o senhor acha que se pode fazer diante dessa realidade?
O serviço dos professores é essencial para a sociedade. Eles ajudam no crescimento intelectual, psíquico e social. Por isso, é inaceitável que a integridade física e moral de nossos professores seja atingida por quem quer que seja. Os alunos devem a eles um profundo respeito. Nisso devem ser acompanhados pelas famílias dos estudantes. Os responsáveis pela gestão das escolas, tanto públicas como particulares, devem se empenhar e aperfeiçoar todos os mecanismos de proteção aos professores para que exerçam com toda liberdade, bondade e carinho o papel que se espera deles na formação das nossas crianças e jovens. O Estado brasileiro tem grave responsabilidade na tomada de providências para combater a violência contra os professores nas escolas, especialmente na busca da superação da violência. Não se supera a violência sem apreender valor. Não se pode admitir atentado, por menor que seja, no interior das escolas.
A experiência da fé pode ajudar tanto na formação dos professores como no exercício do seu trabalho nas escolas e fora delas?
Papa Francisco tem nos ajudado tanto na compreensão e experiência da fé em todos os campos da vida. Em 2015, quando visitou a Universidade Católica, em Quito, no Equador, ele apresenta uma reflexão que indica uma verdadeira missão dos professores e professoras: “Convosco, educadores, eu me interrogo: Velais pelos vossos alunos, ajudando-os a desenvolver um espírito crítico, um espírito livre, capaz de cuidar do mundo atual? Um espírito que seja capaz de procurar novas respostas para os múltiplos desafios que a sociedade nos coloca? Sois capazes de os estimular para não se desinteressarem da realidade que os rodeia? Como entra, nos currículos universitários ou nas diferentes áreas do trabalho educativo, a vida que nos rodeia com as suas perguntas, interpelações, controvérsias? Como geramos e acompanhamos o debate construtivo que nasce do diálogo em prol de um mundo mais humano?”. A experiência da fé nos ajuda e, particularmente os professores, a colocarem-se sempre na busca de um mundo melhor, mais humano, justo e fraterno.