Há exatamente um ano, a seleção brasileira estreava favorita na Copa do Mundo. Agora, se prepara sob desconfiança para encarar a Venezuela, em casa, pela Copa América. O que mudou? Na imagem que se tem da equipe, essencialmente a derrota para a Bélgica, nas quartas de final do torneio mais importante, e a atual ausência de Neymar, machucado e envolvido em problemas pessoais – está sendo acusado de estupro.
Não é só a opinião pública que está diferente. A seleção brasileira também se modificou bastante, mais até do que sugerem as aparências. A CBF manteve Tite, fato raríssimo depois de eliminações, e o técnico tem conduzido transformações que podem parecer sutis, mas, somadas, apresentam um cenário bem distante daquele visto na Rússia.
Somente quatro dos titulares da estreia de 2018, o empate por 1 a 1 com a Suíça, vão iniciar a partida diante dos venezuelanos: Alisson, Thiago Silva, Casemiro e Coutinho.
A Seleção mudou os jogadores, o sistema tático, ideias de jogo e de trabalho. Abaixo, a metamorfose verde-e-amarela de 17 de junho de 2018 para 17 de junho de 2019.
Daniel Alves teria sido titular e capitão no Mundial se não tivesse lesionado o joelho com gravidade. Recuperado, ele retomou a vaga e a faixa para a Copa América.
O time atual tem três reservas da Copa da Rússia: Marquinhos, Filipe Luís e Firmino ganharam as posições de Miranda, Marcelo e Gabriel Jesus. O zagueiro e o centroavante continuam no grupo, mas o lateral-esquerdo do Real Madrid jamais voltou a atuar pelo Brasil depois da derrota nas quartas. Sua temporada ruim na Espanha também o distanciou das convocações.
As principais novidades são Arthur, David Neres e Richarlison. O trio estreou pela Seleção após a Copa e se firmou. Neres foi o último, apenas em março deste ano. Ele disputa posição com Everton, outro novato. Jovens, eles puxam a fila da renovação que será feita até 2022.
Tite consagrou o 4-1-4-1 em sua seleção brasileira com bela campanha e bom futebol nas eliminatórias. Na Copa do Mundo, todos sabiam como a equipe jogava. Agora é um pouco diferente. Seu sistema base com a bola é o 4-2-3-1. Quando o adversário tem a posse, o Brasil varia entre se defender no 4-3-3 (para pressionar a saída de bola) e no 4-4-2.
O desencaixe no meio-campo fez Tite mudar. Em seus melhores momentos, o 4-1-4-1 teve sincronia perfeita entre Paulinho e Renato Augusto, que recebiam a companhia de Coutinho num movimento da direita para dentro. Na Copa, Renato já havia perdido a posição e Coutinho foi deslocado para o centro. Ele e Paulinho não se entenderam tanto, e Willian, o substituto do lado direito, também não conseguiu repetir a função de Coutinho.
A mudança para o 4-2-3-1 contraria o gosto pessoal de Tite, mas prioriza as características de seu grupo. Arthur, que agora joga ao lado de Casemiro, não produz quando recebe a bola mais adiantado, como fazia Paulinho. Por isso, ele se posiciona mais recuado e inicia as jogadas.
Isso também permite que Daniel Alves tenha mais liberdade para criar por dentro, como Tite tem pedido a ele e Filipe Luís. Na frente, sem Neymar, a ideia é promover uma movimentação mais intensa dos atacantes David Neres, Richarlison e Firmino. Na última sexta-feira, não deu certo, principalmente com Neres, muito preso à ponta esquerda.
O treinador também diz ter aprendido com lições da Copa. A principal delas: não demorar a fazer mudanças num torneio tão curto. Para o jogo desta terça, contra a Venezuela, apenas Arthur entrará. Recuperado de dores no joelho direito, ele volta no lugar de Fernandinho.
O desempenho na estreia não foi dos mais empolgantes. Com jogadores em boa fase no banco, casos especialmente de Gabriel Jesus, Everton e Allan, Tite pode pressionar sua equipe a produzir mais na Fonte Nova, sob risco de perderem a posição de titular.
GIRO ESPORTIVO A/M