INFRAESTRUTURA: projetos de transportes precisam passar por teste de viabilidade e integração, recomenda CNI

No Brasil, 220 obras federais de transporte estão paralisadas. Os dados foram divulgados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e constam no Painel de Obras Paralisadas. Esse número corresponde a 19% do total de empreendimentos, com recorte até abril de 2025.  

Em meio a esse cenário, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nesta terça-feira (18) um estudo com recomendações para que o Brasil aprimore os planos e a execução de sua política de transportes. A ideia é que sejam feitas análises de custo-benefício, identificação de falhas críticas que impeçam a implantação, avaliação integrada de projetos, entre outros pontos.

Denominado “Planejamento de Transportes e as Novas Rotas de Integração Logística na América do Sul”, o levantamento propõe, de maneira geral, que nenhum projeto deveria avançar no ciclo de planejamento sem antes passar por um teste de viabilidade. Inclusive, o estudo menciona obras iniciadas sem projeto básico e executivo, que se arrastam há mais de duas décadas, como é o caso da Ferrovia Transnordestina.

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Para a entidade, o setor industrial brasileiro enfrenta inúmeros gargalos logísticos. Os principais entraves apontados são congestionamentos nos grandes centros urbanos, estradas esburacadas e sem conservação, ferrovias sucateadas, portos com restrições em termos de espaço e limitações de acessos terrestre e marítimo.
O especialista em infraestrutura da CNI, Ramon Cunha, entende que todos esses problemas estão relacionados ao baixo investimento e a aplicação dos recursos de maneira ineficiente.

“O Brasil investe pouco no setor de transportes, algo como 0,7% do PIB ao ano, frente a uma necessidade de cerca de 2,2%. Uma outra preocupação diz respeito ao fato de que, além de investir pouco no setor, não necessariamente o país aplica esses recursos de forma adequada. Portanto, o Brasil precisa encarar esse desafio de aprimorar o processo de planejamento com visão estratégica, garantindo, de fato, políticas públicas que possam resultar em ganhos de competitividade, sustentabilidade e prosperidade para o país”, pontua.

América do Sul: as 5 principais rotas de integração

Por outro lado, o levantamento também detalha as melhores soluções para as cinco principais rotas de integração da América do Sul, que são as seguintes:

  1. Ilhas da Guiana: Liga o Brasil ao litoral venezuelano. Compreende os estados do Amapá, Pará, Amazonas e Roraima, integrando-os à Venezuela, Guiana, Guiana-Francesa e, indiretamente, ao Suriname. As conexões internacionais ocorrem por meio de rodovias em Roraima e Amapá.
  2. Amazônica: Inicialmente anunciada como “Rota Manta-Manaus”, que ligaria a capital amazonense ao porto de Manta, no litoral equatoriano, por um eixo único, essa rota passou por uma ampliação ao longo de um ano de estudos e negociações. A Rota Amazônica prevê a conexão entre o estado do Amazonas, a Colômbia, o Peru e o Equador. Inclui a conexão com os litorais peruano e colombiano, alcançando os portos de Tumaco (COL), Paita (PER) e Chancay (PER).
  3. Quadrante Rondon: Integra os estados de Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre, ao Peru e à Bolívia, estendendo-se até o porto de Arica, no Chile, por meio da ferrovia La Paz – Arica. É a rota que tem maior interconectividade com as demais, unindo-se às Rotas 1 e 2 na hidrovia do Rio Amazonas, e à Rota 4 na cidade de Corumbá (MS).
  4. Bioceânica de Capricórnio: Apontada desde o primeiro plano de ação da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), essa rota faria a ligação entre portos no Atlântico (Santos, Paranaguá, São Francisco do Sul e Itajaí) e no Pacífico (Antofagasta, Mejillones e Iaquique, no Chile), por meio de obras de integração de fronteiras localizadas em Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, unindo-os à Argentina e ao Paraguai.
  5. Bioceânica do Sul: No lado brasileiro, essa rota passa exclusivamente pelo estado do Rio Grande do Sul conectando-o à Argentina, ao Uruguai e ao Chile por meio de rodovias e uma hidrovia. A rota criaria um corredor rodoviário Bioceânico entre os portos de Imbituba, no sul de Santa Catarina, e porto de Rio Grande, no extremo sul do Rio Grande do Sul, e os portos chilenos de Valparaíso, Viña del Mar e San Antonio.

Ao fazer uma avaliação dos projetos de integração sul-americana, conduzidos pelo governo, o estudo não encontra evidências ou semelhanças com os critérios metodológicos de seleção de projetos do modelo em curso.

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Além disso, são destacadas preocupações com os critérios de escolha e priorização dos projetos. Outro fator apontado é a necessidade de análises mais rigorosas de custo-benefício e de cálculo da taxa social de retorno das iniciativas.

Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, o planejamento na área de transportes é fundamental para a construção de um país mais integrado e competitivo. “A modernização da infraestrutura de transportes representa mais do que eficiência operacional para a indústria. É um vetor de desenvolvimento econômico e social”, afirma.

Ainda segundo Alban, quando os modais de transporte estão bem estruturados, há uma redução do Custo Brasil e um aumento da atratividade para novos investimentos. “Ao mesmo tempo, são fatores essenciais para melhorar a qualidade de vida da população, com impactos positivos sobre o emprego, a renda e o bem-estar social”, destaca o presidente.

Contribuições para o Plano Nacional de Logística

A CNI explica que o intuito do estudo é contribuir com o Plano Nacional de Logística (PNL 2050), em elaboração pelo governo federal. O diretor de Relações Institucionais da entidade, Roberto Muniz, considera que o país não apenas investe pouco no setor de transportes, como aplica de forma ineficiente os recursos disponíveis.

“Nas últimas duas décadas, os investimentos em transporte e logística no Brasil têm sido entre 0,4% e 0,7% do PIB ao ano, frente a uma necessidade de algo em torno de 2,2%. Ao longo dos anos, avançamos na adoção de melhores regras de transparência e governança dos investimentos, mas ainda assim é preciso evoluir significativamente para garantir uma alocação mais eficiente desses recursos”, diz.

Déficit estrutural em infraestrutura

De maneira geral, o Brasil enfrenta um déficit estrutural em infraestrutura e precisa dobrar os investimentos no setor para alcançar o patamar médio global. A conclusão está no estudo Raio-x do Setor de Infraestrutura Brasileiro 2025, lançado pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan)

O levantamento revela que o país ocupa a 62ª posição, em um ranking de 67 países em desenvolvimento, quando o assunto é infraestrutura. Nos últimos 15 anos, os investimentos médios ficaram em apenas 2,31% do PIB, chegando a 2,22% em 2024.

O diretor-executivo do Sinicon, Humberto Rangel, destacou ainda a necessidade de o país tratar o investimento em infraestrutura como prioridade nacional. “Chamo atenção para um dos dados fundamentais que estão aqui expressos nesse raio-x, que se refere ao estoque de infraestrutura que o Brasil tem na sua totalidade, que corresponde a 35% do PIB nacional. Uma parte do investimento, talvez cerca de 2% do PIB, seria o valor necessário só para você ficar no mesmo lugar e nós não podemos ficar no mesmo lugar. O Brasil precisa atingir cerca de duas vezes esse valor, 60% seria um patamar mínimo de valor de estoque de infraestrutura para que o Brasil possa se colocar na posição de equivalência com países desenvolvidos”, afirma.

Só em relação às rodovias, o estudo mostra que mais da metade da malha viária apresenta problemas, com 40% em estado regular e 13% em condição ruim ou péssima. Essa situação gera um prejuízo logístico anual estimado em R$8,8 bilhões.
 

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