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Déficit de policiais civis afeta delegacias em Minas

por Barbacena em Tempo
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O ato organizado pelas forças de segurança pública para cobrar do Governo do Estado uma política pública de prevenção ao suicídio, previsto para o dia 22 de agosto, em Belo Horizonte, também deverá lembrar o déficit de servidores em várias carreiras. A falta de efetivo de policiais civis, por exemplo, atinge todo o estado e, no mês passado, o próprio chefe da Polícia Civil, delegado Wagner Pinto, chamou atenção para o quadro deficitário durante audiência na Assembleia Legislativa (ALMG). Segundo ele, a instituição funciona com pouco mais da metade da mão de obra necessária. A previsão legal é de 17.517 servidores, nas diversas carreiras. Mas o Estado conta hoje com apenas 9.902 policiais, um déficit de 43%.

Na quarta-feira (24), a Tribuna mostrou que a sobrecarga, aliada a condições de trabalho muitas vezes precárias, tem levado a muitas licenças médicas, atingindo cerca de 30% dos policiais civis de Juiz de Fora. A preocupação com a saúde desses trabalhadores da segurança pública aumentou este mês, quando cinco ocorrências envolvendo a prática de autoextermínio foram registradas apenas os dias 7 e 14. Dois dos casos aconteceram em Juiz de Fora, onde um policial civil recém aposentado e um agente penitenciário do Ceresp cometeram suicídio disparando contra suas próprias cabeças. Em Santos Dumont, a cerca de 50 quilômetros de distância, outro servidor, lotado em presídio de Congonhas, tirou a própria vida. Já em Belo Horizonte, um policial militar suicidou-se, enquanto uma soldado da mesma corporação foi socorrida por colegas e sobreviveu após ingerir remédios em excesso.

O fato de Juiz de Fora contar com 160 servidores, 100 a menos do que o razoável para o Sindicato dos Policiais Civis de Minas Gerais (Sindpol), preocupa o vice-presidente da entidade, Marcelo Armstrong, que aponta o adoecimento dos policiais civis, em sua maioria, por problemas psiquiátricos e psicológicos.

Para se ter ideia da sobrecarga de trabalho em Juiz de Fora, a 3ª Delegacia, responsável por investigar crimes na Zona Norte, trabalha com três policiais: um delegado, um investigador e um escrivão. A região tem cerca de 150 mil moradores e concentra alguns dos bairros mais violentos. “É impossível fazer um trabalho de qualidade. As especializadas, por exemplo, já nascem mortas. Como você investiga roubos ocorridos na cidade toda com três investigadores? Eles fazem o que é possível, mas fica comprometido o trabalho. É uma bola de neve: a pessoa comete o crime pois sabe que não será punida”, afirmou Marcelo Armstrong.

Ainda segundo o vice-presidente do Sindpol, o déficit impacta diretamente na investigação dos crimes. “Cada delegacia tem de 500 a 600 inquéritos. Outros 1. 200 antigos, anteriores a 2007, estão no acervo cartorário. São priorizadas as demandas urgentes e os flagrantes, porque é humanamente impossível para escrivães, investigadores e delegados dar conta de tudo.”

Especializadas trabalham com menos de cinco policiais

Um investigador, que pediu pra não ter seu nome divulgado, afirmou que nenhuma delegacia trabalha com mais de cinco policiais de campo. “Ficamos longe de um atendimento de qualidade. Muitos policiais têm suas folgas e férias prejudicadas, ocorrendo grande estresse. Deixam suas vidas e problemas pessoais em segundo plano diante do desespero das famílias que tiveram um ente morto, uma casa invadida, uma mulher constrangida sexualmente e outros tantos crimes. Com o tempo, isso vai desgastando a vida, com separações conjugais, depressões e uso excessivo de remédios que inicialmente ajudam, mas, com o tempo, vão destruindo a saúde, resultando em doenças e suicídios.”

Um escrivão relatou a mesma pressão. Ele mesmo já se afastou por problemas psicológicos, teve seguidas crises de ansiedade e síndrome do pânico. “A cobrança é muito grande. Se você ou seu familiar for vítima de um crime, é normal querer resolução e ver o criminoso preso. Porém, não conseguimos dar esta resposta com a celeridade necessária. Isso nos deixa angustiados, sem contar a pressão da chefia. Já pensei em pedir exoneração várias vezes, mas tenho família.”

Armstrong destacou que o adoecimento por conta da função não é exclusividade da Polícia Civil. “Agentes penitenciários, policiais militares, todos sofrem esta pressão. Estamos cobrando concurso para todas as carreiras da Polícia Civil. Foram nomeados investigadores e delegados, mas nossa falta maior é de escrivães e aguardamos que sejam chamados mais de cem. Além do déficit de servidores, faremos o ato unificado em 22 de agosto para cobrar recomposição de perdas salariais dos últimos cinco anos, férias prêmios não pagas e a questão das políticas públicas para prevenção ao suicídio”, finalizou.

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