População espera que gestores eleitos e reeleitos saibam enfrentar os desafios do novo coronavírus
Quando um gestor é eleito, a população espera que ele saiba administrar da melhor forma os problemas do município. Mas em tempos de pandemia, esse desafio é ainda maior.
Maciel Ferreira é lavrador e morador de Arceburgo, cidade do interior de Minas Gerais. Ele fala o que espera do candidato eleito.
“Eu votei nessa eleição. Espero que o candidato eleito saiba enfrentar a pandemia do coronavírus, em Arceburgo, porque nós temos muitos casos aqui. Ainda tem muita aglomeração na cidade e poucas pessoas usando máscara”, comenta.
Por isso, a Fundação Oswaldo Cruz lançou um novo Boletim do Observatório Covid-19, que traz recomendações aos prefeitos eleitos e reeleitos para enfrentamento da doença, nos municípios brasileiros. As orientações têm como foco a organização de ações de saúde, e de outros setores, a partir de uma abordagem populacional, territorial e comunitária.
O pesquisador da Fiocruz, Carlos Machado, afirma que estamos num período de sincronização da pandemia, no qual os casos vêm crescendo tanto nas capitais, quanto no interior. No entanto, a maior parte dos leitos de UTI Covid estão nas capitais e nas grandes cidades, o que sobrecarrega a capacidade. Carlos Machado fala sobre a orientação da Fiocruz para esse cenário.
“É possível reduzir os casos com medidas preventivas, uso de máscaras em larga escala e higienização das mãos – como campanhas. Mas também com medidas concretas para reduzir a circulação e aglomeração de pessoas em alguns lugares, principalmente nas áreas centrais da cidade, shoppings, festas. Isso vale também para o interior”, detalha.
A segunda recomendação é evitar que mais casos cheguem em uma situação grave. O pesquisador aborda sobre importância do trabalho da Atenção Primária à Saúde, nos municípios.
“Por ser territorializada nos bairros, nas comunidades, a Atenção Primária à Saúde tem um papel importante na identificação de casos ou de suspeitos; no isolamento desses casos e nas medidas da quarentena. Para que as pessoas tenham apoio – isoladas em casa – existem estratégias, por exemplo, do teleatendimento, do acompanhamento pelos agentes comunitários de saúde, para ver como está a situação de saúde dessa pessoa, evitando que ela chegue a uma situação mais crítica”, destaca.
O terceiro ponto das orientações é o papel dos municípios quanto ao armazenamento e aplicação da vacina contra a Covid-19.
“Os municípios, na prática, serão responsáveis pela vacinação. Então: salas de vacinação, qualificação e treinamento de pessoal, rede de frio para armazenamento da vacina, monitoramento de eventos adversos. Os municípios têm que começar a pensar nisso já”, ressalta.
Confira abaixo um trecho da entrevista com o pesquisador da Fiocruz, Carlos Machado.
Entre as propostas também está a realização de campanhas de prevenção de riscos, para conter o avanço de casos e de óbitos. O pesquisador ressalta a importância da divulgação das campanhas nos meios de comunicação, principalmente nas cidades do interior.
“Primeiro: campanhas de educação em saúde envolvendo os agentes comunitários e os agentes de endemia. Segundo: no interior, tem bicicleta e moto com som; na igreja pode colar cartazes com informações. Campanhas através das rádios e panfletos são possíveis e devem ser realizadas pelas prefeituras”.
O Boletim Observatório Covid-19, da Fiocruz, sinaliza o expressivo aumento no número de casos e de óbitos, entre 22 de novembro e 5 de dezembro. No período, foram reportados 286.905 casos e 4.067 óbitos por Covid-19 – valores que, segundo os pesquisadores, se aproximam dos verificados em maio, quando teve início a pior fase da pandemia no Brasil.
Segundo a Fiocruz, oito capitais apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19, para adultos, acima de 80%: Macapá (92,5%), Fortaleza (86,4%), Recife (83,3%), Vitória (84,9%), Rio de Janeiro (92%), Curitiba (92%), Florianópolis (90,4%) e Campo Grande (100%). Manaus e Salvador aparecem com taxas preocupantes, mas abaixo da zona de alerta crítica, com 76% e 77%, respectivamente.
O epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Wildo Navegantes, recomenda o esforço dos prefeitos eleitos e reeleitos, para não enviar os pacientes com Covid-19 para as regiões metropolitanas.
“É interessante que o prefeito ou a prefeita, que agora entre, tenha clareza que não adianta simplesmente mandar pacientes mais graves para capital, mas fazer o esforço de regionalizar a atenção, com UTIs, equipamentos, testes. Toda a parte de exames complementares e de imagens são pactuadas com orçamentos municipais”, explicou.
O Boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz é realizado por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores, voltado para o estudo do novo coronavírus, em diferentes áreas. A pesquisa apresenta, quinzenalmente, um panorama geral do cenário epidemiológico da pandemia, com indicadores-chave, como taxa de ocupação de leitos de UTI, hospitalização e óbitos, entre outros.
GIRO DE NOTÍCIAS / Brasil 61 / Agência do Rádio