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Ministério da Saúde recomendou o uso de todas as doses em estoque, o que deve ampliar quantidade de vacinados nos municípios
Mais de 24,5 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 foram distribuídas das Secretarias de Estado de Saúde para as Secretarias Municipais, de acordo com dados do governo federal. As densidades populacionais diferentes fazem com que alguns municípios tenham 1,7 milhão de doses recebidas, como ocorre em São Paulo, e outros 90, como Grossos, no Rio Grande do Norte.
Para especialistas, é necessário planejamento para alcançar boas estatísticas de vacinação com a quantidade de doses já recebida. Em Itapetininga, município paulista de 165 mil habitantes, por exemplo, dados da gestão municipal mostram que aproximadamente 44% dos idosos da região já foram imunizados.
Foram 19 mil doses aplicadas pela prefeitura até a tarde desta última terça-feira (23), alcançando quase 5 mil moradores com as duas doses necessárias para proteção. A porcentagem da população total vacinada do município está acima da média do estado. Na visão da prefeita Simone Marquetto (MDB), a organização desde antes do recebimento dos produtos foi essencial para agilizar o processo.
“Fizemos um plano de imunização antes mesmo de começarem a chegar as vacinas à nossa cidade. Tivemos diversas reuniões com a vigilância epidemiológica, sabendo, pelas vacinações anteriores, como H1N1, a leitura de públicos. A melhor idade, aqueles que têm comorbidades. Fizemos uma leitura do público imunizado, entendendo como seria o plano nacional de imunização”, conta Simone.
Ela também diz que criar forças multidisciplinares, ou seja, com diferentes funcionários da saúde, foi fundamental. O município de Itapetininga também faz parte de uma outra estratégia adotada por 2.602 prefeitos, o Consórcio Nacional de Vacinas das Cidades Brasileiras (Conectar). O movimento é organizado pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e tem como objetivo adquirir 20 milhões de vacinas até junho deste ano.
Realidade e expectativa
Apesar dos diferentes movimentos pelo país em busca do maior número de brasileiros imunizados, Alessandro Chagas, assessor técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), avalia que deveria haver um maior esforço central, da União, para adquirir e distribuir mais imunizantes. Ele levanta que a realidade atual do Brasil, neste fim de março, não é animadora.
“O número de doses, para a gente, é considerado baixo. Estamos muito preocupados com esse cenário. Estamos fazendo reuniões duas vezes por semana para ver se conseguimos que os nossos laboratórios aumentem essa produção, muito baixa, que causa preocupação para a gente. Estamos muito lentos na vacinação e queremos reverter esse quadro”, opina.
Alessandro cita ainda a aquisição de vacinas por prefeitos como algo a ser observado com cautela. “Somos contra qualquer aquisição fora do Programa Nacional de Imunização. Por quê? Porque a aquisição de vacina é uma responsabilidade da União. Nossa responsabilidade é aplicar, cuidar das pessoas. A gente desvirtua a função do município do acordo que é feito na Constituição de 1988 de cada função, de cada um, dentro do Sistema Único de Saúde.”
No começo desta semana, o Ministério da Saúde recomendou que estados e municípios utilizem todas as vacinas em estoque, o que pode ampliar a quantidade de imunizados nos próximos dias. As regiões estavam guardando os produtos para garantir a segunda dose às pessoas que já tomaram a primeira, mas o governo federal afirmou que as novas remessas a serem entregues são suficientes.
Alessandro crê que o cenário possa mudar no próximo mês, mas ressalta que depender apenas das vacinas não é suficiente contra a Covid-19. “Acho que a gente não continua nesse número baixo de vacinação, acho que a gente melhora. Mas, a continuar com esse número, temos que evitar aglomerações a todo custo. Hoje não temos vagas de UTI em hospitais públicos e privados. Mas, para reverter isso, é necessário o isolamento social. Não adianta vacinar para reverter. A vacina é de médio prazo”, alerta.
Produtos e consórcio
Também nesta semana, o Instituto Butantan enviou mais 1 milhão de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde. Ao todo, 20,4 milhões de doses desse laboratório já foram distribuídas aos municípios, enquanto 4 milhões de doses da vacina da Fiocruz foram enviadas. Até o dia 23 de março, o ministério informou ter distribuído 29,9 milhões de doses aos estados, somando todas as vacinas.
A meta do governo é receber 38 milhões de doses até 31 de março, de acordo com o Cronograma de Aquisições e Recebimento de Vacinas, da pasta. O número total para 2021, segundo o planejamento, é contar com 562.912.870 vacinas no ano. O painel do Ministério da Saúde mostra ainda que mais de 7 milhões de doses foram aplicadas em pessoas acima de 70 anos.
Adele Vasconcelos, médica intensivista do Hospital Santa Marta, observa que o perfil dos pacientes vem se alterando com as aplicações. “Os idosos já não estão lotando as UTIs, temos um perfil de pacientes muito mais jovens que ainda não foram vacinados. Pela grandiosidade de pessoas que estão sendo atingidas pela Covid-19 e pelo nosso cenário, podemos considerar que ainda não temos a quantidade necessária de pessoas vacinadas neste momento”, levanta.
Outra esperança de acelerar o processo vem do Covax Facility, um consórcio global que é fruto da cooperação de organizações como Unicef, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), por exemplo. O Brasil recebeu 1,02 milhão de doses no começo desta semana por meio da iniciativa, que busca garantir um acesso igualitário à imunização em diferentes países.
GIRO DE NOTÍCIAS / Brasil 61