Em reunião virtual de emergência realizada nesta segunda-feira (14), com presidentes das federações das indústrias de todo o país, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, alertou que o aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos poderá causar a perda de até 110 mil postos de trabalho no setor.
A reunião contou também com a participação da secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Tatiana Lacerda Prazeres, e teve como foco a avaliação dos impactos econômicos e sociais da medida.
Durante o encontro, os representantes da Indústria brasileira defenderam o adiamento mínimo de 90 dias na aplicação das novas tarifas, previstas para entrarem em vigor em 1º de agosto. O objetivo, segundo os participantes, é ganhar tempo para análises técnicas e articulações diplomáticas que possam reverter a medida.
Para a CNI, a decisão do governo norte-americano de impor um tarifaço generalizado não possui embasamento técnico e representa uma ruptura em uma relação comercial centenária. A medida vai afetar fábricas brasileiras e plantas industriais nos EUA que dependem de insumos brasileiros. Isso, na avaliação da entidade, trará impactos aos contratos de longo prazo e à previsibilidade necessária ao ambiente de negócios.
“Lembro que os EUA são o principal destino das exportações industriais do Brasil e o nosso país é um importante fornecedor para o mercado norte-americano”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban, logo após o anúncio do governo dos EUA. “Uma quebra nessa relação, com um impacto dessa magnitude, teria muitos prejuízos ao nosso crescimento, à competitividade, aos empregos e, consequentemente, um forte impacto sobre a economia em geral.”
Em comunicado, a CNI afirmou que o tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, também agrava a situação da indústria brasileira, já “asfixiada pelo injustificado patamar das taxas de juros”, hoje em 15% ao ano. É o patamar mais alto desde 2006, que coloca o país na segunda posição do infame ranking de maiores taxas de juros reais do mundo.
No posicionamento, a CNI reforçou que o momento exige “ações enérgicas e equilibradas, tanto internas quanto externas”. “Devemos negociar a revogação da taxação na condição de país parceiro e de nação soberana. Cabe ao governo brasileiro defender os interesses da sociedade brasileira evitando, sobretudo, as armadilhas da polarização política que o episódio coloca no caminho”, pontuou a entidade.
Diante do cenário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, ainda nesta segunda-feira, a criação do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, responsável por coordenar a resposta do Brasil ao tarifaço.
O grupo será instituído por meio de decreto de regulamentação da Lei de Reciprocidade Econômica (Lei 15.122/25). A primeira reunião do grupo deverá ocorrer ainda nesta terça-feira.
O comitê será presidido pelo vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, e contará com os ministros Rui Costa, da Casa Civil), Mauro Vieira, das Relações Exteriores e Fernando Haddad, da Fazenda.
Segundo informações do MDIC primeira reunião oficial do comitê deverá ocorrer ainda nesta terça-feira (15).
Relação comercial entre Brasil e EUA em números (Fonte: CNI)
Para cada R$ 1 bilhão exportado para os EUA, em 2024, foram gerados:
– 24,3 mil empregos;
– R$ 531,8 milhões em massa salarial;
– R$ 3,2 bilhões em produção na economia brasileira.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira:
– Em 2024, as exportações brasileiras de produtos industriais para os EUA atingiram US$ 181,9 bilhões, um aumento de 2,7% em relação a 2023.
– O crescimento foi impulsionado por bens de consumo não duráveis e semiduráveis, com alta de 11% nas exportações em relação ao ano anterior.
Fonte: Brasil 61