O cantor e ator Luiz Melodia morreu, na madrugada desta sexta-feira (4). O artista, de 66 anos, não resistiu a complicações causadas por um câncer na medula óssea.
Luiz Carlos dos Santos, Luiz Melodia, nasceu no morro do Estácio, Rio de Janeiro, no dia 7 de janeiro de 1951. Único filho homem de Oswaldo e Eurídice, descobriu a música ao ver o pai tocando em casa: “Fui pegando a viola dele, tirando uns acordes, observando. Ele não deixava eu pegar a viola de 4 cordas que era uma relíquia, muito bonita, onde eu aprendi a tocar umas coisas.“
Apesar da precoce afinidade com a música, Luiz acabou contrariando seu pai, que sonhava vê-lo um “doutor” formado: “Ele não apoiava, não adiantou coisíssima alguma, até porque as coisas foram acontecendo. Depois ele veio a curtir para caramba, quando ele faleceu, perdi um grande fã.”, releva.
Começou sua carreira musical em 1963 com o cantor Mizinho, ao mesmo tempo em que trabalhava como tipógrafo, vendedor, caixeiro e músico em bares noturnos.
Em 1964 formou o conjunto musical Os Instantâneos, com Manoel, Nazareno e Mizinho. Depois de abandonar o ginásio Melodia passou a adolescência compondo e tocando sucessos da jovem guarda e bossa nova, com o grupo ‘Instantâneos” formado com amigos.
Essa experiência juntamente com a atmosfera em que vivia – do tradicional samba dos morros cariocas – , resultaram em uma mescla de influências que renderam a Luiz Melodia um estilo único, logo acabou por chamar atenção de um assíduo frequentador do morro do Estácio, o poeta Wally Salomão e de Torquato Neto. Através de Wally, Gal Costa acabou conhecendo um de seus compositores prediletos, resultando na gravação de “Pérola negra” no disco “Gal a todo vapor” de 1972.
Pouco depois era vez de “Estácio, Holly Estácio”, ganhar sua interpretação na voz de Maria Bethânia. Foi nesta época que o artista assumiu então o nome de Luiz Melodia – apropriando o sobrenome artístico de seu pai Oswaldo – , e lançou no ano seguinte (1973) seu primeiro e antológico disco “Pérola negra” sua postura porém, mantinha a mesma irreverência e inquietude, da do garoto que tocava iê-iê-iê nos berços de samba carioca, que lhe rendeu um estilo musical inconfundível, assim como críticas que o consideravam um artista “maldito”, ao lado de nomes como Fagner e João Bosco, por exemplo. “Não éramos pessoas que obedeciam. Burlávamos, pode-se dizer assim, todas as ordens da casa, da gravadora; rompíamos com situações que não nos convinham. Sempre acreditei naquilo que fiz e faço” afirma o Luiz.
Sua carreira acabou por consolidar-se no disco seguinte, “Maravilhas contemporâneas” (1976), popularizado pela canção “Mico de circo” (1978), que seria gravado em seu retorno ao Rio.
Nas décadas seguintes Melodia lança diversos álbuns e realiza shows, inclusive internacionais. Em 1987 apresenta-se em Chateauvallon, na França e em Berna, Suíça, além de participar em 1992 do “III festival de Música de Folcalquier” na França e em 2004 do Festival de Jazz de Montreux à beira do lago Lemán, onde se apresentou no auditório Stravinski, palco principal do festival.
Já conhecido do público e tendo alcançado seu espaço no cenário da MPB, Luiz Melodia lança “Nós” em 1980, incluindo “Codinome beija-flor”. No disco seguinte “Relíquias” (1985), faz uma releitura com novos arranjos para sucessos como “Ébano”, “Subanormal” – e no registro intimista intenso de “Acústico – ao vivo” (1999), em que Melodia passeia novamente por sua obra, agora através da espontaneidade de um disco gravado ao vivo durante sua turnê nacional, considerado sucesso de público e crítica.
O músico faleceu na madrugada do dia 4 de agosto de 2017, em decorrência do agravamento de um câncer na medula óssea.