Durante a última semana, o episcopado brasileiro esteve reunido virtualmente para a realização da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Por essa razão, o Departamento Arquidiocesano de Comunicação (Dacom) conversou com o Arcebispo Metropolitano de Mariana, Dom Airton José dos Santos, sobre o evento.
Dacom: Este ano, de modo extraordinário, a Assembleia Geral da CNBB aconteceu on-line. Quais foram os ganhos e as perdas do encontro ter sido realizado desta forma?
Dom Airton: De fato, a Presidência da CNBB propôs que a 58ª Assembleia Geral Ordinária acontecesse, extraordinariamente, de modo virtual, através de vídeo conferência. Este modo de realizar reuniões pela Igreja no Brasil, e acredito em todo o mundo, ganhou muito espaço, pois minimizou o distanciamento físico e geográfico imposto pela pandemia.
Penso que a utilização da tecnologia da informação trouxe muitas vantagens para a ação da Igreja em todos os cantos da terra. Facilitou a comunicação entre nós; otimizou os recursos, em todos os níveis: econômicos, financeiros, tecnológicos, operacionais e humanos. Para se ter ideia, além disso, possibilitou que muitos tivessem acesso mais direto ao conhecimento dos assuntos tratados nos encontros e reuniões. Ainda no aspecto dos ganhos, percebemos que podemos produzir o mesmo ou muito mais, com redução de custos e de estruturas. Estes são alguns aspectos dos ganhos. Não constitui uma análise global e definitiva.
Quanto às perdas, podemos começar pelo relacionamento humano que, nas reuniões, encontros e, especialmente, no conjunto da Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, é intenso pela sua própria natureza. De modo on-line não conseguimos ter a medida da troca de experiências e do convívio entre os irmãos Bispos que trazem vivências e sensações próprias que, à distancia, não conseguimos partilhar. No máximo conseguimos partilhar ideias e capacidade de trabalho.
Dacom: De modo geral, como o senhor avalia a assembleia e quais são os aprendizados proporcionados?
Dom Airton: Foi uma experiência interessante e, para os objetivos a que nos propomos, respondeu adequadamente. Pudemos experimentar um novo modo de nos organizarmos utilizando os recursos da tecnologia da informação, da internet e das mídias sociais. Neste sentido, penso que aprendemos a estar neste tempo de modo mais consciente, pois nos exige certa proximidade e conhecimento das ferramentas para o trabalho.
Além desse aspecto prático e tecnológico, aprendemos a nos dedicar mais e com disciplina, em todos os momentos da Assembleia. De modo muito tranquilo, penso que cada um de nós aprendeu aproveitar destes meios para continuarmos nosso trabalho de evangelização e de contato com os fiéis de nossas Dioceses.
Dacom: Na opinião do senhor, quais foram os principais momentos da 58ª da Assembleia Geral?
Dom Airton: Pessoalmente, penso que foram cinco os momentos significativos da Assembleia Geral:
1º. Relatório do Presidente (presidência): este é o primeiro ato da Assembleia. O Presidente, retoma os pontos mais importantes da vida da Conferencia dos Bispos e da vida da Igreja no Brasil. Este ano, o Sr. Presidente, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, lembrou e destacou aspectos muito importantes:
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é sinal e instrumento de colegialidade entre os Bispos e da busca de comunhão entre nossas Igrejas Particulares, especialmente o âmbito da ação evangelizadora. Para isso, ela conta com as decisões da Assembleia Geral e o acompanhamento e orientações do Conselho Permanente e do Conselho Episcopal de Pastoral (cf. Est. Canônico, Arts. 1°. e 2°.; 46 e 47);
Lembrou aspectos fundamentais das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para o período de vigência de 2019-2023, destacando que as diretrizes foram estruturadas a partir da concepção da Igreja composta de comunidades Eclesiais Missionárias e apresentada com a imagem da “casa”, “construção de Deus” (1Cor 3,9), sustentada pelos pilares da Caridade, do Pão, da Palavra e da Ação Missionária que podem desenvolver-se adequadamente através da Igreja nas Casas, da Igreja Doméstica. Neste aspecto, lembrou ainda que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora nos convidam a abraçar e vivenciar a Missão como escola de santidade;
Lembrou-nos também trabalhos importantes realizados pelas Comissões Episcopais, dentre elas, o grande trabalho da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia, na preparação e organização do Sínodo para a Amazônia que tem grande significado para a Igreja e para a Sociedade. Faz parte desta importante lembrança o fato de o Santo Padre, o Papa Francisco, ter apresentado para toda a Igreja, a Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Querida Amazônia” que apresenta os quatro sonhos do Sumo Pontífice: social, cultural, ecológico e eclesial;
No seu relatório, o presidente lembrou a situação pela qual passa todo o nosso país, com grande sofrimento para os mais necessitados. A pandemia obrigou-nos a frear muita coisa, obrigou-nos a repensar procedimentos e organização, contudo, “mesmo neste cenário, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil não deixou de cumprir sua ação pastoral e buscou garantir a conexão entre os membros da Igreja no Brasil, representantes dos seus 18 regionais, organismos, pastorais e cristãos católicos por meio da realização de uma intensa agenda de reuniões on-line e de lives sobre temas diversos, campanhas e mensagens, oração semanal do terço, Pacto pela Vida e pelo Brasil e reflexões sobre a reforma de seu estatuto”.
Acompanhando o que aconteceu em todo o mundo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil aproveitou intensamente o uso dos meios de comunicação, das redes sociais e do complexo das mídias para dinamizar seus trabalhos. Segundo o Relatório do Presidente, foram transmitidos “mais de 200 lives (vídeos ao vivo) nos últimos 10 meses pelas redes sociais da CNBB. Os temas da vida da CNBB e da ação pastoral da Igreja no Brasil foram amplamente debatidos, aprofundados e sistematizados com a contribuição das plataformas digitais. (Relatório do Presidente, 58ª. AGO da CNBB, 2021);
Quanto a outras iniciativas e atividades podemos destacar, dentre tantas, as Campanhas da Fraternidade (2020 e 2021), e a Campanha Emergencial “É tempo de cuidar”.
A Campanha da Fraternidade de 2020 que tratou do tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” com o Lema Bíblico: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (cf. Lc 10,33-34), foi pensada no contexto da pandemia e contou com a mensagem do Santo Padre, o Papa Francisco, especialmente enviada aos brasileiros na qual afirmou que a superação da globalização da indiferença acontecerá na medida em que imitarmos o Bom Samaritano.
A Campanha da Fraternidade de 2021, teve a característica de ser Ecumênica, com a participação de cristãos de outras denominações. O seu Tema: “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de amor” e seu Lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (cf. Ef 2,14), nos colocou diante do grande desafio de vivermos permanentemente em clima de diálogo com os que nos cercam;
A Campanha Emergencial “É tempo de cuidar” inspirada pela CF 2020, foi lançada pela Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil e pela Cáritas Brasileira como forma de enfrentar os impactos da pandemia. Foram muitas iniciativas de serviço, de escuta e atendimento às pessoas em situação de vulnerabilidade e os mais necessitados, resultando em 823 ações registradas em 140 Arquidioceses e Dioceses do Brasil; foram 5 milhões, 868 mil e 961 toneladas de alimentos; arrecadação de R$ 4.523.832,00; distribuição de 717 mil quentinhas; 727 mil e 832 unidades de roupas e calçados; 411 mil e 580 Kits de higiene e 414 mil e 114 equipamentos de proteção individual. Mais de 1 milhão e cem mil pessoas foram beneficiadas;
Entre as atividades importantes realizadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, até o presente, encontra-se também o “Pacto pela Vida e pelo Brasil” que se caracterizou pela união com importantes organizações de nosso país para apontar caminhos a partir da garantia da saúde dos brasileiros, da valorização e fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e a manutenção da saúde da economia do país.
Por fim, a preocupação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em promover a renovação de seu Estatuto Canônico, para respondermos mais adequadamente às demandas de nosso tempo e garantir a identidade da CNBB como Organismo de Igreja para não ser confundida com mera organização da sociedade civil.
2º. O tema central: o “Pilar da Palavra de Deus” será, para os próximos anos, motivo de estudos e aprofundamentos. Alguns pontos são fundamentais para esta ação eclesial:
A Igreja se alimenta da Palavra de Deus (Ez 3,1) e a compartilha com a humanidade faminta (Mt 15,32; Am 8,7.11);
É indispensável estabelecer e fortalecer, em pessoas e comunidades, o vínculo entre a Palavra de Deus e a vida, tornando a ação pastoral cada vez mais alicerçada no contato fecundo com a Escritura Sagrada;
Promover o encontro com o Senhor Ressuscitado que, na força do Espírito, conduz à Igreja, comunidade dos discípulos e discípulas e torna essa grande comunidade sempre mais missionária na vivência e no anúncio da Palavra de Deus;
Retomar a importância da “Animação Bíblica de toda a Pastoral, considerando o que o Documento de Aparecida já indicou sobre a evangelização inculturada (DAp248);
Na sequência, retomar a Exortação Apostólica Pós Sinodal sobre a Palavra de Deus Verbum Domini (VD, 273) e o Doc. 97 da CNBB “Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja”;
Aprofundar a Palavra de Deus como Pilar constitutivo das Comunidades Eclesiais Missionárias, seguindo o itinerário proposto nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (DGAE, 88-92.143-159) e considerar este processo como um passo na Animação Bíblica da Pastoral.
3°. Temas prioritários: estes, normalmente estão relacionados a alguma Comissão Episcopal Pastoral. São temas que ajudam a perceber o grande trabalho que é realizado pelos Bispos presidentes das Comissões ou referenciais, por Sacerdotes, Religiosas e Religiosos, leigas e leigos, envolvidos nas várias áreas de ação da Igreja no Brasil.
4º. Encontro com os irmãos Bispos: esta Assembleia Geral dos Bispos do Brasil foi de extrema importância para todos nós, pois, mesmo não sedo presencial ela possibilitou que, outra vez, nos encontrássemos para estreitar nossos laços de amizade e de mutua responsabilidade pelos caminhos da Igreja em nosso país.
5º. O Retiro Espiritual: Sempre, em todas as Assembleias dos Bispos, um dos momentos centrais é constituído pelo Retiro Espiritual. Desta vez, fizemos um Retiro de uma manhã. Mesmo sendo pouco tempo, contando com a Direção do Retiro realizada pelo Eminentíssimo Sr. Cardeal Seán Patrick O’Malley OFMCap., Arcebispo Metropolitano de Boston, nos Estados Unidos da América, tivemos a oportunidade de rezar e aprofundar nossa espiritualidade pastoral. Foram horas de intensa e profunda meditação da Palavra de Deus.
Dacom: O senhor é um dos integrantes da comissão ad hoc de canonista estabelecida para colaborar no acompanhamento da Assembleia. Qual é a importância dessa comissão e de qual forma ela atuou?
Dom Airton: A importância da Comissão Jurídica na Assembleia Geral dos Bispos do Brasil está em dar segurança jurídica aos procedimentos da Assembleia, no Plenário e fora dele, pois cabe a ela dar parecer sobre questões canônicas, estatutárias e regimentais ligadas à Assembleia ou a elas dar solução (cf. Regimento, art. 115 §1°.).
Nesta Assembleia de 2021, a Comissão Jurídica atuou em consultas feitas pelo Plenário da Assembleia e por seu moderador, o Secretário Geral.